“Ablon fez uma pausa dramática e fitou o brilho do sol, que agora já descia pela rota de oeste. Substituiu os vasos na pia da fonte e sentou-se à frente da moça.

 

- Yahweh sempre foi muito dedicado à sua criação, o que entristecia os arcanjos, que disputavam sua atenção. Então, quando o Reluzente deu alma ao homem, os arcanjos, e também muitos anjos, se encheram de ciúmes e raiva. Assim, no instante em que o Altíssimo adormeceu, o príncipe Miguel iniciou sua política de destruição. Alegando falar em nome de Deus, avisou que o Pai estava farto da crueldade humana e que decidira eliminar todo mortal da face da terra. Começou, com isso, a era das grandes catástrofes, dentre as quais a maior foi o dilúvio. (...) O cataclismo indignou metade do paraíso, mas os anjos ainda não estavam preparados para reagir nem para desafiar a autoridade do Monarca Alado. Por isso decidi articular uma conjuração. (...) Formei um círculo de conjurados, todos eles confiáveis, composto por dezoito querubins, que não me trairiam jamais. Contudo, precisava de apoio contra o enfadonho Miguel, e para isso recorri a outro arcanjo.

 

- E quem era ele?

 

- Lúcifer, a Estrela da Manha. Ainda que fosse um arcanjo, Lúcifer sempre se mostrou favorável à causa humana, mesmo que só para desafiar seu irmão. Ele era o único que tinha poder para debelar o Príncipe Celestial e era perfeito no quadro da conjuração.

 

- Qual foi a resposta dele?

 

- Ele aceitou meu plano, e achei que juntos poderíamos por fim as hecatombes e talvez despojar o tirano. Mas nem tudo correu como esperado. Séculos depois do dilúvio, os homens voltaram a se multiplicar, o que enfureceu sobremaneira o ditador. Sua fúria caiu, então, sobre Sodoma, um centro terreno que prosperava e crescia. Miguel resolveu devastar o lugar e convocou todos os anjos para uma assembleia, com o intuito de anunciar sua decisão. Após um demorado discurso, confirmou o extermínio não só de Sodoma, mas de todas as cidades na vastidão da planície. Irritados, eu e os conjuradores levantamos a palavra, e tudo não teria passado de uma discursão se o ardiloso Lúcifer não tivesse nos delatado. Ali diante do conselho, o Arcanjo Sombrio nos traiu, revelou a conjuração, e então pegamos em armas. Uma luta violenta sucedeu, até que os pilares do paraíso racharam, e despencamos. Fantástico e insuperável é o poder do sinistro Miguel; ele nos amaldiçoou, condenando-nos à pior sentença que poderia ser dada aos celestiais. Ele nos encerrou em nosso corpo físico e nos expulsou para a terra. E assim fomos relegados ao plano material."

 

Fiquei pensando em como explicar a história do protagonista e as razões que o levou à condição que vivia, mas achei melhor colocar esse trecho do livro, pois é mais sucinto do que eu conseguiria escrever.

 

Uma história narrativa do mundo angelical contada desde o início dos tempos até o apocalipse. Ablon, o anjo renegado é amaldiçoado e lançado na terra, condenado a viver em um corpo físico até seu último dia de vida. Durante esse tempo de exílio conhece a feiticeira Shamira que o ajudará a cumprir a missão que falhou, mas antes do fim devera enfrentar monstros, deuses, homens e demônios.

 

Nunca li algo parecido. É uma fantasia excepcional num universo pouco explorado, porém aqui bem definido. As castas angelicais, residência celestial, foi tudo bem estudado e os acontecimentos históricos e bíblicos bem colocados de um jeito épico com um pouco de romance (só um pouco, nada meloso).

 

Os capítulos se alternam no tempo, ora no presente, ora no passado mostrando as razões dos acontecimentos atuais com flashback, de forma que no início era complicado, mas após algumas páginas foi como um quebra-cabeça montando-se e instigando a curiosidade de como Spohr terminaria essa história.

 

Aqueles que acham que será uma leitura difícil: o autor se deu o trabalho de por um glossário e uma linha do tempo que ajuda a clarear algumas dúvidas. Claro que tive as minhas interrogações, como: quem era o mentor da feiticeira de En-Dor? Pra onde foi Rafael?

O final da história é diferente do que eu imaginei e acabei ficando surpreso. Outra coisa boa do livro é o acabamento, diagramação e as formas ilustrativas no início de cada capítulo. Gostei demais e espero ler logo outros livros do mesmo autor ambientado no mesmo universo.

 

Boa leitura!

 

Por Bruno Carvalho

 

Informações do Livro

I.S.B.N.: 9788576860761

Nome: A Batalha do Apocalipse - Da Queda dos Anjos ao Crepúsculo do Mundo

Publicado em: 2010

Autor: Eduardo Spohr

Páginas: 586

Editora no Brasil: Verus

Editora Internacional: Luiting Fantasy